OS ECONOMISTAS “CHUTAM” AS SUAS PREVISÕES?
Tatá Werneck apresenta um programa divertidíssimo no canal Multishow chamado Lady Night. Um dos quadros do programa consiste na apresentadora entrevistar especialistas em diferentes ramos, para quem ela faz perguntas absurdas relacionadas à profissão do convidado. Para um meteorologista, Tatá brincou a todo o momento com a fama de eles nunca acertarem suas previsões. Chegou a perguntar “como é ter a profissão mais sem credibilidade do mundo?”
De alguma forma, nós economistas sofremos com a mesma fama dos meteorologistas. Já ouvi diversas vezes que as previsões feitas a respeito do crescimento da economia, da inflação, da taxa de câmbio, são feitas no puro “chutômetro”. Ou seja, economistas simplesmente inventam alguns números sem preocupação nenhuma, pois caso as previsões não se concretizem no futuro basta inventar alguma desculpa esfarrapada de porque o que era projetado não ocorreu. O Boletim Focus do Banco Central do Brasil, que reúne semanalmente as previsões dos economistas das principais instituições financeiras do país, projetou no início do ano um crescimento do PIB de 2,7% em 2018. Bom, estamos em novembro e o último Boletim estima que este crescimento seja de apenas 1,36%. Realmente os economistas erraram feio. Mas afinal, foi puro chute mesmo?
Posso garantir que não. Para fazer estas previsões, os economistas usam modelos matemáticos e estatísticos que basicamente consistem em analisar o passado para tentar projetar o futuro. Para prever o crescimento do PIB são consultados os resultados de diversos indicadores nos anos anteriores, tais como inflação, taxas de juros, vendas do comércio, faturamento da indústria e do setor de serviços, taxa de câmbio, entre outros. É verificado estatisticamente se existe uma relação entre estes indicadores e o crescimento do PIB nos anos anteriores, e quais são os que influenciam mais neste crescimento. Feito isto, os economistas consultam informações das empresas, órgãos especializados, governo e imprensa para verificarem qual é o comportamento mais esperado para estes indicadores no período projetado e, com base na relação encontrada nos modelos matemáticos, divulgam a sua previsão de crescimento do PIB.
Acontece que o mundo não é tão perfeito e exato como nas planilhas de Excel. Diferente da estatística, a economia não é uma ciência exata: ela depende muito das expectativas e frustrações das pessoas. Um simples acontecimento pode modificar todo o panorama geral, provocando um desânimo que faz com que empresários segurem investimentos ou que as pessoas adiem o projeto de fazer um financiamento para comprar uma nova casa, com medo de não conseguirem arcar com as obrigações no futuro. Tudo isto trava o crescimento do PIB. Neste ano de 2018, em específico, os economistas nunca poderiam contar com a greve de caminhoneiros que travou o país durante praticamente duas semanas, causando uma parada forçada na produção de diversas empresas e aumentando a falta de confiança generalizada no país que ainda estava traumatizado pelos anos recentes de crise. Acabou sendo assim um dos motivos que, juntamente com a incerteza política decorrente das eleições, fez com que o crescimento fosse tão abaixo das previsões.
Para 2019, a expectativa provocada pelo início de um novo governo e com as mudanças que se esperam que venham com ele desencadeou (por enquanto), uma onda de otimismo que vem se manifestando nas primeiras previsões para a economia. A expectativa atual é de um crescimento de 2,5% do PIB – mais modesto do que era o previsto para 2018, pois os modelos incorporaram o crescimento fraco deste ano na análise. Cabe-nos torcer para que as expectativas se confirmem, não ocorra nenhum fato dramático que modifique negativamente o panorama e para que nós economistas não carreguemos por mais um ano a fama de “chutadores sem credibilidade”. (Todas as informações contidas nesta coluna são de responsabilidade do autor)