Inspirada na história do filho, nutricionista de Arapongas lança livro na Bienal

A nutricionista de Arapongas, Fernanda Cristina Carrasco Bela Brizzi, inspirada na experiência que mudou completamente a rotina da família, após o diagnóstico de diabetes tipo 1 do filho Enzo, quando tinha apenas 1 ano e 11 meses, resolveu contar parte dessa história num livro. Intitulado “Cartilha Meu Filho Tipo 1” será lançado no dia 4 do próximo mês durante a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

O livro traz as angústias e os aprendizados dela e do marido o Bráulio Augusto Brizzi e do próprio filho, Enzo, hoje com nove anos, ao se derrapar com o diagnóstico de diabetes. Juntos, eles precisaram reaprender tarefas básicas do dia sobre alimentação, por exemplo, além de do cuidado com o filho, que envolve até hoje verificação e aplicação de insulina.

É inegável que a família sofreu um baque daqueles, mas entendeu, acima de tudo que era preciso buscar conhecimento e garantir direitos básicos, como acesso aos medicamentos, para que o filho tivesse qualidade de vida. Mais que isso: que outras crianças, também diagnosticadas com diabetes, tipo 1, tivessem o mesmo direito, o de viver como qualquer criança.

A primeira surpresa da família, após o diagnóstico, foi a escola que o menino estudava alegar que não mais poderia tê-lo como aluno, pois não tinha estrutura para cuidar dele. Fernanda precisou deixar o trabalho e dar início à procura de uma nova escola, onde ia fazer monitoramento e a aplicação de insulina, apesar de prestar esse serviço. “Passando o diagnóstico, três, quatro meses depois, comecei a conhecer grupos de mães. Foi com essas conversas que consegui maior parte das informações na época”, revela.

Novo trabalho

E assim, trocando experiências, buscando profissionais qualificados, dentro e fora de Arapongas, ela começou a partilhar também o que sabia com outras mães. “Fui buscar conhecimento, porque eu não queria que mais nenhuma mãe passasse pelo que passei. Acabei vendo também a possibilidade de um novo emprego e uma nova forma de trabalho ajudando realmente as famílias recém-diagnosticadas a terem informações que eu não tive”, revela.

Ela comenta que o fato do médico saber o que tem que ser feito é muito diferente do que a família tem que fazer em casa. “A gente sai do hospital com uma criança, agulhas, tiras de medições e insulina, mas não sabe usar isso corretamente no começo, além da alimentação que deve ser toda diferenciada”, sublinha.

E é justamente sobre essa fase de descobertas e angústias o foco do livro. “Hoje, eu trabalho com o gerenciamento do diabetes com famílias recém-diagnosticadas e com pessoas diabéticas, com o intuito de auxiliar na alimentação e assim melhorar os valores de glicemia”, frisa, mas o livro é basicamente uma cartilha dos dois primeiros anos após o diagnóstico, que ocorreu em 2011.

Uma nova profissional

Com tantas mudanças, ela que era formada em Veterinária, diante do desejo de realmente proporcionar qualidade de vida ao filho, começou a fazer cursos voltados na área de nutrição e diabetes. No ano passado, inclusive, concluiu a graduação em Nutrição. “Me formei no ano passado e, anteriormente, fiz curso e especializações. Hoje, eu sou Educadora em Diabetes e especialista em Nutrição em Enfermidades Renais”, diz.
Projeto pioneiro

“A missão hoje é fazer a diferença na vida das pessoas. Que as crianças, por exemplo, sejam diagnosticadas precocemente, para poder receber todo o cuidado necessário”, afirma. Neste sentido, Fernanda cita que, junto com a Câmara de Vereadores, conseguiu que fosse aprovado o teste rápido de glicemia no Pronto Atendimento do município, legislação pioneira no Brasil.

“Sempre que posso, acabo levando essa legislação para fora. Com isso, Arapongas foi a primeira cidade do Brasil a ter o teste de glicemia obrigatório em pronto atendimentos. Esse teste ajuda a salvar muitas vidas, além de proporcionar o início do tratamento”, diz.

Outro desafio, segundo a nutricionista, de toda pessoa diabética, é ter o direito garantido aos insumos. “A maior dificuldade é o acesso ao insumo, como insulina e tiras de medições. É algo caro para manter, mas no Paraná, uma resolução, nos garante esse acesso ao necessário, nem que seja via judicial. A Justiça tem entendido a importância desses insumos às pessoas diabéticas”, reconhece.

Na próxima semana, ela viaja para Irlanda, onde irá palestrar sobre sua mudança de vida e também sobre a legislação, que ajudou a aprovar.

Entenda os tipos de diabetes

Existem dois tipos principais de diabetes: o tipo 1, que geralmente aparece na infância ou adolescência, e o tipo  2 que se manifesta, na maioria dos casos, em pessoas acima dos 40 anos.

No tipo 2, o pâncreas produz insulina, mas não o suficiente para cobrir as necessidades orgânicas. Todavia, se o paciente emagrecer ou deixar de usar cortisona, por exemplo, o pâncreas pode voltar a produzir esse hormônio em níveis adequados.

Já o diabetes tipo 1, muito mais frequente em crianças, decorre de uma falência total do pâncreas, que deixa de produzir insulina. Esse tipo de diabetes exige doses suplementares de insulina pelo resto da vida para que a pessoa possa levar vida saudável. (Informações Drauzio Varela)

Mais sobre diabetes tipo 1 em https://meufilhotipo1.blogspot.com

Texto – O Comuniqueiro

Foto – Divulgação