O CHEQUE ESPECIAL MUDOU! MAS AINDA É RUIM
No último dia 27 de novembro o CMN (Conselho Monetário Nacional), órgão vinculado ao governo federal, limitou a 8% ao mês os juros do cheque especial cobrados pelos bancos, cuja média atual é de 12,4% mensais. A determinação valerá a partir de 06 de janeiro de 2020. Em contrapartida a esta limitação dos juros, os bancos passarão a cobrar uma tarifa pelo cheque especial, de 0,25% sobre o valor do limite disponível ao cliente nos casos em que este limite exceda 500 reais. Por exemplo, se o banco te oferece um limite de 1.000 reais nesta modalidade você pagará uma taxa de 2,50 ao mês independentemente de ter utilizado ou não este limite (caso ele seja utilizado, será cobrado somente o valor dos juros).
Foi uma boa medida do CMN? Inegavelmente os juros sobre a utilização do cheque especial são estratosféricos. Entretanto, pela facilidade de utilização (os bancos aprovam limites sem a necessidade de qualquer avaliação prévia) esta linha de crédito é bastante utilizada pelos brasileiros. Por este saldo estar sempre disponível muitos inclusive o encaram (de maneira bem errada) como uma complementação da renda, sem considerar os enormes juros que estão pagando, e pior, pagam estes juros com o próprio limite do cheque especial. Desta forma, a bola de neve está armada e a limitação destes juros pode por esta ótica ser considerada positiva.
Entretanto, esta determinação ainda não faz com que o cheque especial deixe de ser uma alternativa de crédito muito ruim. Mesmo com os juros limitados a 8% ao mês é muito mais vantajoso recorrer a uma linha de crédito pessoal, que tem juros médios de 5,9%. Além disto a nova regra cria uma despesa extra para quem tem um limite de cheque especial disponibilizado pelo banco, mas não o usa. Caso seja o seu caso, fale já com o gerente e diminua seu limite para o máximo de 500 reais, nível em que a nova tarifa não será cobrada. Desta forma você poderá continuar usando este limite como uma alternativa em casos de emergência financeira (que é o jeito correto de usar o cheque especial) sem ter que pagar uma tarifa mensal por isto.
O uso indiscriminado do cheque especial é mais um reflexo da péssima educação financeira que temos no Brasil. Cada vez fica mais nítido que o assunto finanças tem que ser ensinado para as crianças desde o início da vida escolar, buscando que elas se tornem adultos responsáveis financeiramente. E também que é necessário encontrar meios e desenvolver políticas para que a educação financeira seja acessível a um número cada vez maior de pessoas. Afinal, nunca é tarde para mudar a forma como se lida com o dinheiro.
Foi esta ideia que me motivou a escrever estas colunas durante 1 ano e 8 meses. Infelizmente minhas obrigações profissionais aumentaram e ficou muito difícil conseguir tempo para seguir escrevendo-as com a regularidade necessária. Portanto esta é minha última coluna, pelo menos por enquanto. Agradeço muito ao Comuniqueiro pelo espaço que me foi dado durante todo este tempo, e ressaltar a seriedade e a dedicação que eu pude sempre observar por parte dos responsáveis pelo portal. E, se em alguma destas colunas eu pude contribuir para orientar quem quer que seja sobre suas finanças, fico com a sensação de missão cumprida. Desejo a todos um feliz natal e um 2020 de muito sucesso e prosperidade!