Literatura Africana: Um olhar para história e o despertar da consciência humana

“Um dia vi um amigo poeta se lamentar com todas as teclas: pena que a literatura não enche barriga! Mas a certeza minha é que lava a alma, nossas almas branquissujas na ganância imposta. E, para não cair no visgo da consciência vesga, eu não me iludo; sei que nem sempre negro é beleza pura porque o egoísmo também se veste de pele escura. Se assim não fosse seria tão simples que a justiça não exigiria compartilhar suor, amor e dor, seria apenas uma questão de cor”. Jamu Minka

A coluna desta semana traz uma discussão sobre a literatura africana no nosso contexto fazendo uma reflexão sobre o “Dia da Consciência Negra”, dia 20/11, e começamos com essa citação do autor que demonstra em seus textos poéticos que um dos pontos fundamentais para que se estabeleça uma consciência negra é a “exaltação dos valores africanos ou africanizados”, possibilitando o resgate de uma herança cultural por parte da população afrodescendente, que traz consigo as frustrações geradas pelo preconceito de cor. Para o poeta, a literatura tem uma responsabilidade política e humanizadora.

A literatura africana tem suas raízes no movimento que ficou conhecido como negritude, sendo que a primeira leva dos escritores participou do primeiro congresso de escritores da África no ano de 1956, contendo textos e poesias inspirados nas revoltas que possuíam caráter anticolonialista.

Segundo Manuel Ferreira (1987, p.12), a literatura africana vive quatro momentos: O escritor africano está alienado e sua obra pode ser escrita em qualquer lugar do mundo; ele percebe a realidade em que vive; percebe a condição de colonizado e, por fim, o ser humano escravizado reconstitui-se como ser individualizado. Este último é momento de liberdade, de criatividade e produção e da identificação com a África do orgulho conquistado.  As discussões presentes que podemos observar nas leituras são questões de conflitos vividos na região, assim como a beleza dos lugares que existem por lá e dos sofrimentos que passaram nos setores social e político.

Para você que quer começar a conhecer a Literatura Africana e não conhece títulos indicamos aqui algumas obras que te farão ter um novo olhar para a cultura e história desse povo.

1 – O outro pé da sereia, de Mia Couto

Trata-se de um romance dividido em dois momentos históricos, o enredo está envolto na imagem de uma santa católica que encanta e perturba a todos que se aproximam dela. Em 1560, essa é a estátua que acompanha o jesuíta Gonçalo da Silveira da Índia em direção à atual região entre o Zimbábue e Moçambique. Já no século XXI, a mesma imagem é encontrada por Mwadia Malunga em terras moçambicanas. A história explora as relações de sincretismo religioso e choque cultural entre portugueses, indianos e africanos, tecendo um retrato do mundo globalizado. Este livro é muito requisitado em provas de vestibulares, merece seu tempo e leitura.

2. Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie

Este livro incrível Americanah conta a história de Ifemelu, uma blogueira nigeriana reconhecida nos Estados Unidos, desde sua juventude em Lagos até seu cotidiano nos Estados Unidos, onde vai residir para estudar. Chegando lá, pela primeira vez, a protagonista se depara com a questão racial e com as adversidades que se apresentam por ser imigrante, mulher e negra. São abertas muitas discussões que te deixarão lembrando deste livro por muito tempo.

3- Fique Comigo – Ayobami Adebayo

O livro inicia no ano de 2008 e sabemos que o casal que protagoniza esta história não está mais junto. Em seguida, a história volta para 1985 e começamos a conhecer a história de Yejide e Akin, e os motivos que o levaram a uma separação. Apaixonados desde os tempos de universidade, Akin e Yejide formam um casal atípico para a cultura nigeriana de 1980. A poligamia era um costume defendido e incentivado. Para os nigerianos, ter mais esposas significava gerar mais filhos e, deste modo, ter uma prole maior. Akin e Yejide decidiram, desde o primeiro momento, que seriam suficientes um para o outro, por isso optaram pela monogamia. O sonho de uma vida plena e feliz para ambos, seria concreto não fosse por uma lacuna que ambos consideravam importante demais para ser ignorada: filhos. Após quatro anos de um casamento feliz, Yejide e Akin ainda não haviam sido agraciados com filhos, isso incomodava a família de Akin, ainda mais do que ao próprio casal. Por isso, certo dia, a mãe de Akin decide visitar a família, trazendo consigo uma jovem que apresenta como a segunda esposa de Akin. Pega de surpresa, Yejide não consegue acreditar que Akin estava ciente e, ao que parece, concordando com toda a situação. Yejide não vê outra maneira de se livrar da nova esposa, que não seja engravidando primeiro, por isso ela inicia uma verdadeira missão para conseguir engravidar.

4Mayombe, por Pepetela

“Mayombe” foi escrito durante a participação de Pepetela na guerra de libertação de Angola, e mostra o cotidiano dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em luta contra as tropas portuguesas.

Esse livro possui algumas cenas gloriosas. Além de falar de política, trata do amor, de questões filosóficas, dentre muitas outras. Tudo de forma muito natural.

Cândido (1995) afirma que a Literatura desenvolve em nós a sensibilidade, tornando-nos mais compreensivos, reflexivos, críticos e abertos para novos olhares e possibilidades diante da nossa condição humana. A leitura literária permite-nos refletir sobre o mundo em nossa volta, abrindo nossos horizontes, ampliando os conhecimentos, possibilitando novas perspectivas. O 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, é marcado pela reflexão de como a população negra está inserida na sociedade. Vale reforçar que essa reflexão precisa ser diária, empática e deve partir de todos, acreditamos que literatura pode despertar a consciência humana.

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