Pare de colocar água no refrigerante
Quando eu saí da cidade dos meus pais para fazer faculdade, minha primeira moradia foi um pensionato no centro de Londrina. Lá viviam outros estudantes, alguns meus amigos até hoje. O pensionato tinha uma geladeira comunitária onde nós guardávamos o que nossos poucos recursos de universitários conseguiam comprar para comer e beber além do bandejão da faculdade. Como sempre acontece nestes casos, o combo geladeira e livre acesso de várias pessoas fazia com que, vez ou outra, alguém fosse contemplado com o sumiço de algum item que tinha ansiosamente guardado para consumir no momento adequado, ocasiões nas quais jamais conseguíamos identificar quem tinha sido o responsável por tal sumiço, motivando a angustiante revolta da “vítima do assalto”.
De todas as vezes em que um fato destes aconteceu, uma em especial chocou os moradores pela audácia do “meliante”. Em um belo e calorento dia, Rafael comprou uma garrafa de refrigerante, na ânsia de se refrescar. No dia seguinte, numa mistura de lamentação, surpresa e revolta, ele nos contou que alguém, além de beber sem autorização, misturou água ao refrigerante que restou na garrafa – na intenção de disfarçar o desfalque. Ou seja, além de cometer o erro de beber algo que não era seu, a pessoa conseguiu piorar o erro original, estragando todo o conteúdo da garrafa. Se simplesmente roubasse um pouco de refrigerante e deixasse o restante intacto, o prejuízo de Rafael seria menor pois ele ainda conseguiria beber alguma coisa. Nunca soubemos quem cometeu o delito, portanto não dá para saber se a pessoa se arrependeu e tentou consertar ou se o que ela queria era mesmo prejudicar Rafael – mas o fato é que este exemplo nunca me sai da cabeça para ilustrar o quanto as pessoas são capazes de piorar um erro.
Muita gente insiste em “colocar água no refrigerante” quando se trata da vida financeira. Cometer erros é normal, aliás é a coisa mais normal do mundo – apenas através dos erros cometidos podemos aprender e crescer. O problema é quando se insiste no erro e, mais grave ainda, se piora o erro anterior. Conheço casos de pessoas que acumularam dívidas no cartão de crédito e para tentar quitá-las recorreram a empréstimos bancários sem avaliar devidamente se conseguiriam arcar com as parcelas. Resultado: ficaram devendo para os bancos e em pouco tempo já tinham novamente dívidas no cartão, se enrolando em uma enorme bola de neve.
Outro exemplo que eu vejo acontecer bastante: alguém resolve abrir um negócio por acreditar ter tido uma ideia que pode lhe render muito dinheiro. A pessoa, entretanto, não faz uma análise cuidadosa do potencial de mercado da empresa, ou seja, se o público quer efetivamente “comprar a ideia” e também não conta com grandes habilidades empresariais – liderar pessoas, divulgar a marca, administrar o fluxo de caixa. O negócio começa a naufragar e, se sentindo encurralada pelo desespero, ao invés de procurar se capacitar, arrumar um sócio ou contratar ajuda especializada a pessoa resolve abaixar violentamente os preços ou desvia da ideia original, passando a vender tudo o que ela pensa ser uma oportunidade de salvação – o que na esmagadora maioria dos casos acelera a falência da empresa.
Rafael nunca descobriu quem colocou água no seu refrigerante. Mas você pode parar e refletir se não está fazendo o mesmo com sua vida financeira. E se estiver acontecendo, faça logo o culpado (você mesmo) parar! Isto vale não só para o financeiro, mas também para todos os aspectos da nossa vida.