A CULPA É SÓ DOS POLÍTICOS?

Hoje vou sair um pouco do assunto Economia e Finanças, embora o que eu vá abordar aqui não deixe de ter relação com o tema. Afinal, virou lugar comum creditar a culpa das dificuldades econômicas do Brasil aos “políticos corruptos”, como se por um passe de mágica os tais políticos desaparecessem o nosso país automaticamente se converteria em um oásis de prosperidade. É simplista afirmar que a economia está complicada somente devido a corrupção – há uma série de outros fatores que influenciam esta situação – mas não dá para negar que sim, a corrupção atrapalha bastante o panorama, pelo simples fato de sugar recursos que o governo poderia utilizar para investir na melhoria do país.

Então estes políticos são mesmo um câncer, não é mesmo? São. Mas a corrupção acontece porque eles estão em uma situação privilegiada, podendo tirar vantagem dos cargos que ocupam para obter benefícios próprios. O que me faz acreditar que não bastaria simplesmente trocar os políticos para acabar com a tal da corrupção é temer o seguinte: a maioria dos brasileiros não hesitaria em usar uma posição privilegiada para obter vantagens ilícitas. Em outras palavras, honestidade não é um item muito comum por aqui.

Listarei alguns exemplos reais que presenciei e me ajudaram a chegar nesta conclusão (poderia até listar bem mais, mas o texto ficaria muito longo):

– Ao me desligar de uma empresa, fui encaminhado para fazer o exame demissional. A clínica onde fui fazer este exame era bem movimentada e referência na cidade para este tipo de trabalho. Após esperar cerca de 3 horas para ser atendido, o médico simplesmente pergunta se estou bem, diz que vai escrever que minha pressão arterial está 12 por 8 (sem medir) e me libera um laudo em 2 minutos.

– Fazendo compras em um supermercado estou esperando para pagar na fila do caixa rápido (compras de até 10 volumes) e na minha frente há uma moça muito bem vestida com um carrinho cheio de produtos. Quando chega a vez de ela ser atendida, a funcionária do supermercado corretamente diz que a moça não poderia ser atendida naquele caixa, pois as suas compras excediam o máximo permitido de volumes (nota minha: em pelo menos 3 vezes). Como a cliente reage? Faz um escândalo, xinga a funcionária, chama a gerente até conseguir a permissão para passar as suas compras no referido caixa, enquanto as pessoas que estavam atrás dela com o número correto de volumes são obrigadas a esperar.

– Semanalmente eu fazia uma viagem de ônibus no mesmo trecho que levava também algumas pessoas que traziam produtos do Paraguai (os famosos muambeiros). O roteiro era sempre o mesmo quando o ônibus passava por um posto policial. O policial mandava o ônibus parar, um dos muambeiros saía para conversar com ele e entrava avisando os colegas: “hoje é x reais”. Depois de recolher a contribuição da digamos “equipe”, ele fazia o pagamento e a viagem seguia tranquilamente, com os itens contrabandeados devidamente acomodados no bagageiro.

Portanto, para que tenhamos algum dia um país efetivamente livre da corrupção o nosso povo tem que parar de usar os políticos como bodes expiatórios e olhar mais para dentro de si. O que acontece em Brasília é só um reflexo do que é feito país afora. Só quando vencermos a cultura do jeitinho e do levar vantagem é que conseguiremos sonhar em sermos administrados de forma honesta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *