Mulheres reforçam presença em funções da Polícia Civil
A Polícia Civil do Paraná abriu nesta segunda-feira (25), em Curitiba, as atividades da Semana da Mulher. O encontro segue até quarta-feira (27), com palestras gratuitas sobre violência doméstica para mulheres da comunidade e cursos de tiro e defesa pessoal às agentes de segurança pública. A Polícia Civil tem 992 mulheres nas suas unidades em todo o Estado, ocupando cargos de delegadas, investigadoras, escrivãs, papiloscopistas e de agentes de grupos de operações especiais.
A semana da mulher acontecerá na Escola Superior da Polícia Civil (ESPC). O objetivo do encontro é fomentar a integração do público feminino com os servidores estaduais e da Polícia Civil que atuam em defesa dos direitos da mulher. Nos dois primeiros dias as palestras são voltadas à comunidade e no terceiro as atividades são exclusivas às servidoras da segurança.
Desde 1991, todos os cargos da corporação podem ser ocupados por mulheres. O delegado-geral da Polícia Civil, Silvio Jacob Rockembach, afirma que critérios técnicos têm levado as mulheres a conquistarem postos importantes. “As mulheres conquistam pela qualidade do trabalho. Como a escolha para cargos se dá por critérios técnicos, cada vez mais elas ocupam lugares importantes e estratégicos dentro da Polícia Civil. Como exemplo, hoje temos delegadas mulheres que são chefes em subdivisões do interior, a Divisão de Homicídios é chefiada por uma mulher e toda a coordenação de inteligência é feita por mulheres, além disso elas estão em grupos especiais”, diz Rockembach.
Coordenadora das 20 delegacias da mulher do Paraná, Marcia Rejane Vieira Marcondes, avalia que a rede de atendimento às vítimas de violência doméstica evoluiu ao longo do tempo. “Os órgãos estão mais especializados. Não é mais aquele amadorismo de antigamente. É mais organizado. As mulheres também tiveram um amadurecimento. Antes elas esperavam cinco ou seis anos para denunciar a violência. Hoje agem mais rápido”, afirma.
Com 24 anos de carreira policial, Marcia também destaca o aumento da presença feminina nas unidades policiais. “Hoje temos mulheres em cargos de chefia na Polícia, o que não se via há 20 anos, então temos uma alteração importante”.
SONHO NA MIRA – Cinco em cada 10 mulheres da Polícia Civil do Paraná são investigadoras. Pela necessidade da função, as 464 investigadoras distribuídas nas unidades policiais têm como princípio serem “invisíveis” à sociedade, mas possuem papel essencial na elucidação de crimes e conclusão de inquéritos.
Foi dessa forma, sem saber muito do que o cargo exigia, que Daiani Fernandes, 34, abandonou a profissão na educação para ser “invisível”. O sonho de ingressar na área da segurança sempre existiu, já que o pai é servidor do Exército. Em 2009 Daiani foi aprovada na Polícia Militar e no ano seguinte conquistou o cargo de investigadora na Polícia Civil. Há cinco anos na função, Daiani diz ter cada vez mais clareza e comprometimento com o cargo. “Quando entrei não sabia muito da investigação, era mais uma vontade minha. Mas, hoje eu sou apaixonada pelo meu trabalho”.
Daiani também relata a relação positiva com outras servidoras da segurança, principalmente na atuação em delegacias da mulher. Ela afirma ser essencial a presença feminina nas delegacias e aponta diferenças. “O olhar da mulher é diferente, ela consegue planejar a longo prazo. Trabalhar com uma mulher organizando equipe é maravilhoso”.
A recepção da comunidade em relação às agentes também é diferente. Daiani diz que existe uma empatia quando a abordagem é feminina e encontra menos resistência em atividades comuns da função policial, como a entrega de intimação. “Eu acho que é um complemento. É importante a função dos homens e das mulheres. Mas, geralmente elas têm mais tato para conversar com as vítimas, principalmente se forem também mulheres.”
PIONEIRISMO – Sete mulheres fazem parte dos grupos de operações especiais da Polícia Civil no Paraná. São cinco lotadas no Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), uma no Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre) e uma no Grupamento de Operações Aéreas (GOA). Bruna Roberta Mayer é uma das integrantes desse elenco e um exemplo de pioneirismo na carreira operacional da instituição.
A conquista da investigadora para uma vaga no curso de operações aéreas no Maranhão já seria um motivo para Bruna ser conhecida entre as colegas policiais. Após dois anos de treinamento intenso, a investigadora concorreu com 11 homens no processo seletivo realizado entre os servidores do Paraná e foi a única a passar nos testes.
A bateria de exames envolveu corrida de 10 quilômetros, barra fixa, natação por 12 minutos, subida de cabo sem auxílio de braços, salto de plataforma de 10 metros, teste de tiro, flexão de braços. “Eu tinha muita vontade de ir para o lado operacional da polícia e a oportunidade do GOA surgiu. Encarei o desafio com 11 homens e treinei muito para chegar a uma condição física de quase isonomia com eles. Não foi fácil”.
Com a formação no curso realizado no Nordeste, Bruna se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de operadores aerotáticos do GOA, o que lhe confere a função de trabalhar em aeronaves. Aos 13 anos de carreira policial, a ponta-grossense de 34 anos afirma estar realizada. “Pessoalmente é um trabalho que exige mais treinamento. Mas, é um sonho para mim estar na parte operacional e gratificante porque sou uma das mulheres que talvez abriu as portas para que outras mulheres tentem”.