Toxina botulínica ajuda a tratar a espasticidade

Os músculos correspondem de 40 a 50% do peso corporal e possuem diversas funções no organismo. Dentre os vários tipos de músculos, existem os esqueléticos, responsáveis principalmente pelos movimentos dos braços e das pernas. Para que esses movimentos ocorram, os músculos recebem estímulos do sistema nervoso central (SNC) por meio dos chamados neurônios motores.

Entretanto, algumas doenças ou condições de saúde que afetam o SNC podem levar à espasticidade, um distúrbio do movimento decorrente de uma lesão do neurônio motor superior (NMS).

“Os neurônios motores enviam mensagens químicas para permitir a contração dos músculos voluntários do corpo. Os reflexos nervosos são fundamentais para coordenar os movimentos musculares normais, de contrair e relaxar, de forma alternada”, explica a neurologista infantil, Dra. Andrea Weinmann.

Porém, algumas doenças como paralisia cerebral (PC), traumatismos cranioencefálicos (TCE), esclerose múltipla (E), acidente vascular cerebral (AVC) ou ainda síndromes congênitas, podem causar lesões nos neurônios motores, sendo a espasticidade uma das consequências destas patologias”, diz Dra. Andrea. 

Músculos fora de controle
De acordo com a médica, a espasticidade, embora atinja os músculos, é consequência de um dano em uma parte do SNS que controla os movimentos voluntários. “Essa lesão leva a uma alteração no equilíbrio dos estímulos que saem do sistema nervoso para os músculos e vice-versa. Popularmente, pode ser chamada de rigidez, aperto ou repuxão dos músculos. Os músculos afetados sofrem, além da espasticidade, fraqueza e diminuição do controle dos movimentos”.

Espasticidade e qualidade de vida
A espasticidade pode ser mais ou menos grave, dependendo do tipo de lesão no sistema nervoso. Mas, em geral, pode causar dor, limitação dos movimentos e da amplitude dos movimentos, alteração na marcha (caminhada), dificuldade para realização nas atividades diárias, postura anormal, deformidades osteomusculoarticulares e incontinência urinária.

“O impacto da espasticidade na qualidade de vida do paciente é muito importante. Em muitos casos, atividades simples como comer, tomar banho ou se vestir se tornam inviáveis. Por isso, nos últimos anos, estudos foram desenvolvidos para encontrar tratamentos que ofereçam mais autonomia e uma melhor recuperação da capacidade funcional do paciente”, conta Dra. Andrea.

Toxina botulínica e espasticidade
A maioria das pessoas acredita que a toxina botulínica tipo A,  é uma substância usada apenas para a estética, no tratamento das rugas. Entretanto, a toxina botulínica foi inicialmente usada para tratar o estrabismo (desvio dos músculos oculares). Ao longo dos anos, estudos mostraram que o produto também é eficaz no tratamento da espasticidade, potencializando os efeitos da fisioterapia, por exemplo.

“A toxina botulínica A promove a paresia (perda da motricidade), atrofia muscular e redução da espasticidade, de forma temporária. Os efeitos costumam aparecer entre dois a seis dias após a aplicação, com melhora do quadro clínico por volta de quatro a dez dias da aplicação. A duração pode variar de paciente para paciente, mas costuma ser de três a seis meses. Os estudos apontam que quando o paciente recebe as aplicações, tem uma resposta melhor na reabilitação”, comenta Dra. Andrea.

Atualmente, o tratamento da espasticidade com a toxina botulínica pode ser feito no Brasil, inclusive pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pelos planos de saúde. Entretanto, é necessário que o médico tenha recebido treinamento e esteja qualificado para a aplicação e que o paciente se enquadre na indicação.

Em geral, as especialidades que cuidam da espasticidade são a neurologia infantil (crianças e adolescentes), neurologia (adultos), neurocirurgia ou ainda médicos fisiatras. Além dos médicos, podem participar do tratamento de reabilitação fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.

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