Tatuadora usa cores para reconstruir autoestima de pessoas que tiveram câncer
Você já parou para pensar no que tem feito pelo outro? A tatuadora Bárbara Nhiemetz, de Curitiba, usa o seu talento para ajudar a devolver a autoestima de mulheres e homens que enfrentaram o câncer. Gratuito, o trabalho é feito através do projeto Cores que Acolhem, criado em 2015. Mais de 100 pacientes já foram atendidos. Eles recebem desenhos que cobrem cicatrizes ou têm auréolas mamárias ou mamilos redesenhados.
Foi ainda criança que Bárbara teve contato com o câncer. Diagnosticada com a doença na mama, a mãe dela passou por um longo tratamento, o que incluiu sessões de quimioterapia, radioterapia e a retirada de seio. A então menina acompanhou todo o processo, buscando formas de apoiar a paciente. “Quando ela estava finalizando o tratamento, eu sempre pedia para desenhar com canetinha nela, na perna, no braço. Até que um dia eu pedi para desenhar na área da cicatriz. E, desde os 8, 9 anos de idade, eu já notava que existia melhora no humor dela quando eu fazia alguma coisinha nela. Eu via que ela se sentia melhor não enxergando a cicatriz”, relata a tatuadora.
Já adulta e atuando profissionalmente com tatuagens, Bárbara percebeu que a arte que fazia na mãe poderia ajudar outras pessoas. O estalo veio depois de outra situação de câncer na família, desta vez com o filho dela. Ao ser levado para casa, após nascer prematuro e passar meses na incubadora, veio então a descoberta de nódulos na axila do bebê. Foram retirados três tumores. “A gente vivenciou pela primeira vez de uma forma tão ruim o que é passar pela doença. Com o filho é muito mais difícil que com a mãe, porque a gente meio que nasce para viver para o mundo e, a partir do momento que nasce o nosso filho, a gente vive pra ele”, pontua.
Bárbara já fazia pigmentação de manchas e cicatrizes há seis anos. No entanto, como era prestadora de serviços em um estúdio, não conseguia desenvolver o trabalho de forma gratuita. Ao sair do estabelecimento, passou a ter autonomia para atuar com o Cores que Acolhem. Isso começou a ser feito logo após a alta do bebê da tatuadora. “São as minhas cores acolhendo esses pacientes”, define.
Lembra da mãe da Bárbara? Ela foi a primeira paciente a ser atendida pelo projeto, em outubro de 2015.
“Fazer esse trabalho de resgate de autoestima dessas pessoas é sensacional, é algo que faz um bem muito grande para alma, para o coração. Depois que você atende, consegue se colocar no lugar do próximo. Cada vez que atendo um paciente me sinto mais grata por ter meu filho e minha mãe vivos. Nós já perdemos muitas pessoas na família por causa da doença”, sustenta.
Como funciona
As sessões do Cores que Acolhem acontecem às segundas-feiras, o dia de folga da Bárbara, e por ordem de inscrição. Para ser atendido, é preciso entrar em contato por e-mail. “Passamos uma lista de documentação médica que tem que ser apresentada junto com a autorização do médico, explicando que a pessoa está apta”, assinala a tatuadora.
Vencida esta etapa, é feita então uma avaliação e o agendamento da sessão. No dia do atendimento, Bárbara e o marido, que também é tatuador e a auxilia no projeto, buscam conversar com os pacientes para entender como está o emocional deles e prepará-los para o trabalho que será feito. “O momento da tatuagem não é só fazer um desenho. No caso das mulheres, a partir do momento que elas olham no espelho, sem o mamilo, e se levantam da maca, mas com o mamilo, elas começam a se enxergar mulheres de novo”, sustenta Bárbara, que se diz grata em poder colocar em prática o Cores que Acolhem. “Ver essas pessoas se olhando no espelho e se sentindo renovadas de novo não tem preço, é incrível”.
E você, tem ou conhece algum projeto que ajuda outras pessoas?
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