Estiagem provoca prejuízos na segunda safra de grãos no Paraná

O período de mais de 40 dias sem chuvas entre os meses de abril e maio afetou o desenvolvimento da segunda safra de grãos plantada no Paraná e atrasou o plantio de trigo e outros cereais de inverno. A Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento já contabiliza prejuízos com perdas de milho e feijão da segunda safra 2018 da ordem de R$ 1,34 bilhão.

A estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral), divulgada nesta quinta-feira (24), é de uma produção de 36,8 milhões de toneladas, 12% menor que a anterior, que foi de 41,7 milhões de toneladas.

Para o diretor do Deral, Francisco Simioni, infelizmente o clima não está favorável ao desenvolvimento da segunda safra de grãos no Estado. O cenário é o mesmo para o trigo e demais cereais de inverno, cujo desempenho está totalmente dependente do clima em que persiste um quadro com chuvas abaixo do esperado.

Segundo ele, há esperança que parte dos prejuízos já previstos possa ser compensado com preços melhores, principalmente para os produtores que diversificam a produção. Simione destacou também a possibilidade de retornos financeiros compensadores para os produtores que conseguirem exportar a produção, como a soja. “O câmbio elevado e o mercado consumidor de oleaginosas com mais demanda pode favorecer o produtor internamente”, disse.

Já no mercado interno, avaliou, a preocupação é com a redução no consumo de milho, frente a possibilidade das empresas integradoras em diminuir os alojamentos de frangos para fazer frente ao embargo das exportações de frango pelo mercado comum europeu. “No médio prazo, as cotações de milho podem não se sustentar por causa da queda na demanda por frango”, disse.

Além disso, afirmou, existe o conforto de uma produção de milho normal no Brasil, sendo que a queda na produção está concentrada no Paraná. “Com isso o espaço para aumento de preço para a commoditie milho é menor”, enfatizou Simioni, podendo o produtor paranaense não ser recompensado com possível aumento nos preços internacionais.

MILHO – Conforme relatório do Deral, a colheita da segunda safra de milho terá uma redução de 2,2 milhões de toneladas, que corresponde a uma perda de R$ 1,2 bilhão.

O Deral está estimando agora uma colheita de 10 milhões de toneladas de milho da segunda safra, que corresponde a um recuo de 18% em relação à estimativa inicial da safra 2018 que esperava um volume de 12,2 milhões de toneladas. E um recuo de 25% em relação à segunda safra colhida no ano passado, cujo volume foi de 13,3 milhões.

Segundo Edmar Gervásio, analista de milho do Deral, as perdas da segunda safra estão concentradas nas regiões Oeste e Norte do Estado, que ficaram mais de 40 dias sem chuvas. “Essa situação impactou as lavouras e deverá continuar impactando com um período de chuvas insuficientes”. O analista lembrou que as chuvas que ocorreram sobre o Estado na primeira quinzena de maio atenderam as necessidades hídricas na região Oeste, mas não foram suficientes para suprir todo o deficit hídrico dos solos na região Norte e Centro do Estado.

O período de desenvolvimento das lavouras é considerado crítico, porque está sujeito a outros riscos como uma geada que pode afetar os plantios mais tardios de milho da segunda safra, disse Gervásio.

O plantio de milho safrinha ocupou uma área de 2,15 milhões de hectares este ano, cerca de 300 mil hectares a menos que os 2,41 milhões de hectares plantados no ano passado, situação que já induzia a uma queda no volume de produção, antes do impacto do clima.

Parte da área que seria ocupada com o plantio de milho da segunda safra migrou para o plantio de trigo e cereais de inverno, disse Gervásio. Segundo ele, problemas como baixos preços do milho na época de plantio e o atraso na colheita da soja da safra de verão 2017/18 foram determinantes para muitos produtores recuarem na área plantada com milho de segunda safra.

Esse cenário, porém, não impactou de forma significativa a comercialização do grão, que está sendo vendido entre R$ 32,00 a R$ 34,00 a saca em média, cotação próxima ao mercado internacional. Gervásio não acredita em falta de milho no mercado, se considerar que as perdas com a segunda safra estão restritas ao Paraná, e a produção nacional não deve ser inferior a 80 milhões de toneladas este ano, que é um volume suficiente para atender a demanda, ressaltou. “Se houver necessidade as indústrias paranaenses vão buscar o milho em Mato Grosso ou Goiás. Pode encarecer o produto, mas faltar não vai”, disse.

FEIJÃO – O feijão da segunda safra plantado no Estado foi outro produto atingido pela seca. O Deral está contabilizando uma perda de 20% na produção em relação ao potencial produtivo que apontava para uma colheita de 306.384 toneladas. A previsão é que 75 mil toneladas já foram perdidas no Estado. O prejuízo foi avaliado em R$ 142 milhões, considerando os preços praticados pelo mercado.

Cerca de 43% da área plantada, que ocupou um total de 200 mil hectares, foi colhida e 27% está em frutificação. Há regiões em que a escassez de chuvas ainda está prejudicando a produção, disse o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Salvador. Com isso, a qualidade da produção poderá ficar inferior em relação ao ano passado, disse o técnico.

Mesmo assim, ainda não há reflexos significativos no mercado. O analista acredita que o consumo de feijão está mudando de patamar, com menos demanda. O preço do feijão de cor, que estava cotado a R$ 90,22 a saca em abril, subiu para R$ 111,54 a saca em maio. E o preço do feijão preto, que era R$ 103,94 a saca em abril, evoluiu para R$ 116,88 a saca em maio.

Para Salvador, a expectativa é de manutenção dos preços no varejo uma vez que o consumo de feijão está retraído e tem oferta nos estados do Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, que podem suprir o mercado paranaense.

TRIGO – O trigo está com 52% da área prevista, de 1,04 milhão de hectares, já plantada, sendo que houve prorrogação no plantio por 20 dias por causa da seca. Segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho, as chuvas no Norte não foram suficientes para efetivar o plantio com tranquilidade. “As condições de plantio ainda não estão ideais, mas elas avançaram com a prorrogação do prazo”, disse.

Para o analista, preocupa um pouco a germinação desuniforme do trigo na região Norte. “Na região Oeste, a situação está mais tranquila, mas no Norte, não”, disse. A germinação desuniforme pode prejudicar a produtividade lá na frente, explicou. Agora, o plantio avança para a região Sul que é a mais fria do Estado.

Por enquanto a estimativa de produção permanece em 3,3 milhões de toneladas, volume 48% acima do que foi colhido no ano passado que atingiu volume de 2,2 milhões de toneladas.

Atualmente não há trigo nacional no mercado, mas a cotação do grão foi a R$ 44,00 a saca, valor que já remunera o custo variável de produção do cereal, disse Godinho. Segundo ele, o mercado está ofertando esse valor como forma de estímulo aos produtores a plantarem o trigo. Porém, essa cotação não é garantia no período futuro quando for o período de oferta e comercialização.

SOJA – Já para a soja, a situação está mais tranquila, com colheita da safra 17/18 encerrada e 61% vendida. No ano passado, nessa mesma época 44% da safra estava vendida. Para o economista do Deral, Marcelo Garrido, os produtores aceleram as vendas, beneficiando-se das cotações e câmbio favoráveis. No Paraná, a cotação da soja paga ao produtor está em R$ 76,00 a saca.

Esse valor está 27% a mais em relação a um ano, comparou Garrido. Foi uma grande safra, com uma colheita de 19,1 milhões de toneladas, a segunda maior da história que está sendo vendida num preço bom. Na safra passada, a soja ocupou uma área de 5,5 milhões de hectares, a maior já ocupada com uma cultura.

A questão agora é como os preços vão se comportar para a comercialização do restante da safra, disse. Segundo Garrido, a preocupação dos produtores no momento é quanto à definição dos pacotes tecnológicos para a safra 2018/19, que começa a ser plantada no segundo semestre. Isso porque os preços dos insumos estão submetidos à influência do câmbio, podendo impactar na elevação dos custos de produção.

 

Fonte: AEN

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